domingo, 18 de abril de 2010

Subito momento de morbidez,

Depois de morta, o que?
Queimada não!
E também não fechada num caixão... sempre sofri de claustrofobia.
Quero, se possível, secar ao sol e a chuva, sem ser enterrada. Não quero regressar a terra maternal que não me atrai como memória de útero.Posso pedir, por exemplo que me deitem ao mar: Não deitarão...
Será que me enterravam numa praia, onde as águas viessem? Se tem de me enterrar, que seja assim.
Mas nem vestida, nem penteada, nem lavada. Nua.
Que me penteie o mar molhando a areia, e eu de mim escorra
ás águas que me lavem.
Nas grandes marés vivas, ondas recurvadas virão estrondar sobre mim, rapando em espuma rechitante a areia que me cobre.
Nada ouvirei, nada sentirei...
Emerge um pé daqui, além um braço, e mais acima
uma caveira rindo.
Se o mar não me levar, enterrem-me depois como quiserem, descarnada e limpa.
Terei assim ao menos um tempo, o sol, a areia e o mar
por minha conta,
como quem vai deitar-se numa praia e olhando o céu, sonha de si e de outros corpos na areia ardendo;
Que o som das águas cobre com amor
que molha
num refrescar da pele
acariciada ao vento.

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