segunda-feira, 29 de julho de 2013

A tecelã

 Estava no trem e vi uma senhora tricotando. Ela tecia um cachecol com suas agulhas, tão concentrada, como se aquilo fosse uma ciência, como se tecesse o destino do mundo inteiro. Cuidadosamente entrelaçava os fios com o cuidado de quem liga uma vida a outra. As mãos, negras e frenéticas, marcadas pelo tempo, prova da maestria, não paravam.
  Seus longos cabelos desciam pelos ombros e ela os tirava da frente antes de puxar o novelo para tirar um pouco mais de linha, como se tivesse receio de unir um daqueles fios brancos a tantos outros coloridos e alegres do cachecol, que tecia sorrindo.
  Estava no trem e vi uma senhora tricotando. Todos a olhavam, mas acho que só eu á via.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Feliz de propósito

Declaro para os devidos fins
E a quem possa interessar,
Que decidi ser simplesmente feliz
Não importando a paisagem ou o lugar.

Meu coração estará em liberdade
Para prender-se onde bem desejar
Fora do meu ser não buscarei felicidade
Porque em mim mesma a verei
Como flores na primavera a brotar

Meu sorriso não conhecerá cadeados
E até mesmo as lágrimas terão seu lugar
Rolarão felizes por meu rosto
Porque só de alegria vou chorar

Neste memorável dia registro
Que o sol brilhará em todas as minhas estações
Primavera, verão, outono e inverno
A melodia percorrerá as mais diversas canções

Serei feliz quando o sol brilhar
Serei grata quando o céu escurecer
Recolherei as pedras do meio do caminho
Farei um novo caminho se for preciso...

...Serei feliz de propósito enquanto viver!

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Redundância

 Dizem que não são as respostas que movem o mundo e sim as perguntas. Parei pra pensar nisso e advinhem só, cheguei a várias respostas. Uma mais inconclusiva que a outra. Não interessa quantos textos eu escreva e quantas frases eu formule, as coisas que eu comece a falar sozinha e grave e regrave pra ouvir depois e tentar chegar a alguma conclusão, a conclusão não vem. Mas, vamos lá.
 E se tivéssemos a resposta pra perguntas do tipo: quem somos? De onde viemos? O mundo foi criado ou evoluiu? Ou evoluiu depois de ser criado? Como se organiza a sociedade? Como se compõe o sistema? Por que é tão difícil viver em paz?
Se eu for citar todas as perguntas, não vou terminar nem hoje, nem nunca. Mas, voltando ao que eu estava dizendo, talvez o fato principal de não conseguirmos responde-las seja porque, se respondêssemos, o mundo pararia de girar. Por mais ínfimas e parciais que fossem as respostas, a maioria se daria por satisfeito. E isso resultaria numa eminente estagnação.
 Imaginem se a ciência encontrasse a resposta pra todos os problemas? Seria ótimo, não? Mas e depois? O fato é que no caminho de encontrar as respostas pra determinadas perguntas, os cientistas acabam encontrando as respostas de outras e/ou encontrando novas perguntas. Causando dessa forma a evolução do método cientifico, fazendo o mundo girar de modo que uma pergunta se torna uma resposta parcial a outra, e assim elas vão se interligando, formando verdades totalmente inquestionáveis. Até que surgem novos pensadores, novos loucos e hereges que as absorvem, contestam e as derrubam. Provando que a verdade é que a única certeza da vida é que as perguntas são infindáveis.
 Talvez esse seja o sentido de tudo. Perguntar, e perguntar infinitamente. Refletir trinta vezes sobre o mesmo assunto, estudar, escrever, falar e se inquietar e não conseguir dormir. Exercer o que só uma pessoa pode fazer: pensar. No fundo, essas perguntas sem resposta estão ai pra isso. Pra nos lembrar de que não podemos dormir, acordar todas as manhas, abrir a janela, olhar pra fora e ver o mundo como algo normal. Porque não é. A vida que se desenrola e surge a cada minuto diante dos nossos olhos é assustadora, minuciosa e sublime. Se não fossem essas perguntas sem resposta, talvez parássemos de pensar ao ponto de não sabermos  o porque de nos inquietarmos, de nos incomodarmos, de que é isso que nos difere de todas as outras criaturas no mundo. Precisamos construir a nós mesmos e as coisas a nossa volta, e não existe outra forma de manter essas construções em pé sem os blocos das perguntas. Porque as perguntas são imutáveis mesmo depois de respondidas, as resposta não, não servem de alicerce.
 Existem pessoas que não se questionam, não tem nenhuma pergunta. Logo, nenhuma resposta. E sem ambos ou pelo menos um dos dois, qual é o sentido de viver? Não há sentido. Elas parecem não saber que tropeçam todos os dias nos nós traçados pelo destino. E o destino? Ele existe? O destino é um deus, e segue incompreendido e cego. Como nós. Ceguíssimos... Mas, existe? Não sei. E qual o problema afinal de contas? É só mais uma pergunta pra compor a listas das que vão tirar meu sono um dia desses.

sábado, 6 de julho de 2013

O último superlativo

 O funkeiro Mc Daleste morreu. Foi baleado enquanto fazia um show. E eu estou vendo muitos fazendo pouco caso disso e piadinhas no facebook do tipo "menos um funkeiro no mundo". Não gosto de funk, isso não é segredo. Mas tratar com descaso um ato de violência e agir dessa forma simplesmente pelo tipo de musica que ele cantava é ridiculo, sem mencionar que é de um pensamento extremamente pequeno. Pequeníssimo. Muitos reclamam que não são compreendidos, que não são aceitos, que são julgados, mas olha só as atitudes que tomam...
  Dizem por ai que a vida é um espelho. Será que com alguns pensamentos e comentários estamos emitindo o respeito e a compreensão que queremos dos outros? Antes de rockeiros, funkeiros ou qualquer outro rótulo, somos pessoas. Somos vidas. E toda vida tem valor. A questão é que ninguém é o que é por acaso. Somos nosso meio social, a familia em que crescemos, as pessoas com quem convivemos e em quem nos espelhamos, os amigos que fazemos, pelo que nos esforçamos. Eu não sei nada sobre ele, ouvi uma musica aleatóriamente, mas tenho certeza que ele como todo mundo tinha defeitos mas também tinha qualidades. E essas qualidades, o que ele foi como pessoa, pra si e pra quem gostava dele, não tem preço, por mais que muitos saibam o preço de tudo e o valor de COISA NENHUMA. Quem somos nós? QUEM SÃO VOCÊS pra dizer que "foi melhor porque é menos um funkeiro no mundo"? Que direito nós temos de dizer algo assim? Quem sabe no dia que essas pessoas morrerem, tenha alguem pra dizer que foi menos um hipócrita, menos um ignorante no mundo. Estariam certíssimos.

 O fato é que se fosse um artista de outro gênero, a grande maioria acharia absurdo. Como as pessoas são cegas. Ceguíssimas. Muitos não gostam do funk pela obscenidade, mas ao mesmo tempo, ouvem musicas gringas que são igualmente ou as vezes até piores. Mas, ninguem julga não é mesmo? Pregam a liberdade de expressão apenas e somente quando a expressão é a sua própria.
  Comecem a pensar um pouco, vocês que se dizem tão humanos, vocês que protestam pela diminuição da tarifa, vocês que querem os direitos dos animais e o fim do bullying, entre outras causas... entendam que nada disso tem valor se você não souber valorizar o que significa a vida de alguém. Estão dizendo muito ultimamente que "O Brasil acordou". Acordou pra que exatamente? As balas de borracha nos manifestantes chocam, revoltam. Mas as balas de verdade, que matam na periferia são vistas como "meio de tirar mais um funkeiro do mundo"? Não percebem que ambos estão errados? Pelo visto não. Estão de fato, "acordadíssimos".... HIPÓCRITAS.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Sereníssima

 Quando perguntam a uma criança: "o que você quer ser quando crescer?", ela responde verdadeiramente o que quer SER. Bailarina, astronauta, jogador de futebol, professora, bombeiro e por ai vai. Essas crianças crescem e quando adolescentes, se questionadas novamente, raramente as respostas vão ser as mesmas. A pergunta mudou de tom. De significado. Antes: o que você quer ser? Agora: Com o que você quer trabalhar pra ganhar dinheiro?
 É cada dia mais evidente que a grande maioria das pessoas não trabalham com o que gostam, abandonam os sonhos porque são socialmente obrigadas a serem bem sucedidas. Mas o que ser bem sucedido significa? Trabalhar o dia inteiro rezando pra chegar a hora de ir embora, simplesmente porque odiamos o que fazemos, mas o que fazemos paga as contas? Nascemos, crescemos, estudamos, trabalhamos, nos aposentamos e isso é tudo. Não deveria ser.
 No fundo, sabemos que merecemos mais. Então porque, se temos a oportunidade, não sermos aquilo que queríamos? Não vale mais a pena um salário menor com a convicção de estar fazendo o que se deve fazer? Ninguém está aqui por acaso, seria um disperdício de tempo e de espaço acreditarmos que estamos nessa vida a passeio. Além de sermos bem sucedidos, temos o dever com nós mesmos de sermos bem realizados. Como já diria Renato Russo na música que dá titulo a esse texto, "O que ninguém percebe é o que todo mundo sabe". E nada define melhor o que eu estou dizendo.
 Passamos a maior parte de nossos dias trabalhando, e essas horas por dia se tornam a maior parte de nossas vidas. Abrimos mão de sairmos pra nos divertir, quem tem filhos abre mão do tempo que tem com eles porque precisa trabalhar, deixa de fazer o que gosta porque não tem tempo, os exemplos são infinitos. Não podemos perder nossas vidas dessa forma, sem um propósito. Não podemos nos levantar todos os dias e não sabermos o motivo, não termos uma boa visão de futuro e muito menos de presente.
 Não mintamos. Todos querem ganhar bem. Mas ganhar bem e desperdiçar a vida não me parece um bom cenário. Não me tomem como hipócrita. Eu não escolhi medicina, não escolhi engenharia. Poderia ter escolhido. Sem a menor duvida eu seria capaz de fazê-los e ganharia melhor.  Mas, eu escolhi o que vai me fazer feliz. O que eu sinto que estou aqui pra fazer. Escolhi uma das carreiras mais difíceis e que mais precisa de ajustes neste país: eu escolhi ser professora. Cansei de ouvir comentários do tipo: "você tem capacidade pra mais", "escolhe uma profissão na qual você vá ganhar melhor", e coisas do tipo. Não, obrigada. Fiquem vocês com seus ideais errados de ser "bem sucedido". E quem tem coragem, que seja bem realizado.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Confissão

 Quando meus sentimentos parecem pesados, difíceis de suportar, gosto de escrever. Porque quando escritos no papel, eles parecem ser extirpados, proporcionando-me grande alivio.
 Se ficam na alma, gangrenam-na.