segunda-feira, 4 de julho de 2016

Análise do movimento feminista

Quando uma mulher diz que não é feminista, me esforço pra entender o que ela quis dizer com aquilo. Na maioria das vezes, quer dizer que não concorda com algo dentro da teoria ou do movimento.
A primeira coisa que precisamos entender é que não existe apenas um feminismo. O feminismo é dividido em 3 fases principais, e dentro delas existem muitas subvertentes do movimento.
Vamos focar nessas 3 ondas dentro do Brasil.
A primeira onda no país começou no século 19 (manjo nada de algarismos romanos, 19 mesmo).
As reinvidicaçoes nesse periodo eram: direito ao voto e a vida pública, direito ao trabalho sem autorização do marido ou do pai e o direito a receber herança. Porque naquela época, se o pai não tivesse filhos homens as posses iam pro parente homem mais proximo.
Duvido muito que as mulheres que dizem não ser ou não concordar com  feminismo estejam se referindo a qualquer dessas coisas.
A segunda teve inicio nos anos 70 num momento de crise da democracia. Alem de terem lutado pelo fim da ditadura, as mulheres reivindicavam a valorização do seu trabalho, o direito ao prazer, se colocavam contra o abuso sexual e a favor do aborto. Nessa época, com o começo dos métodos contraceptivos, houve o começo da emancipação sexual feminina.
Tambem não acredito que as mulheres que são contra o feminismo sejam contra a maioria dessas coisas de modo geral.
Podemos incluir na minoria as mulheres cristãs e as conservadoras, mesmo que sem religião. Pois a bíblia prega a pureza sexual antes do casamento, de modo que pra essa parcela, emancipação sexual é lascivia. Tambem sabemos que a biblia condena o aborto. Então, quando uma dessas mulheres diz não ser feminista, provavelmente está se referindo a uma dessas pautas do movimento.
A terceira onda teve inicio nos anos 80. Começou-se a discutir os paradigmaa das duas ondas anteriores, colocando em discussão a micropolitica.
Nessa época, a ideia era mostrar que o discurso universal do feminismo era excludente porque atinge as mulheres de modos diferentes. Seria necessario discutir gênero com recorte de classe social e etnia. Por que?
Porque na década de 70 as mulheres começaram a denunciar a invisibilidade das mulheres negras no movimento feminista. No Brasil essa inclusão só começou nos anos 80, e algumas das pautas não eram do interesse delas. Como por exemplo a reivindicação de trabalhar fora. Isso jamais foi requerido pelas mulheres negras e pobres porque elas sempre tiveram que trabalhar.
Assim, com a universalização da categoria mulheres, toda a representação foi pensada, a priori, com base nas necessidades das mulheres brancas de classe média.
Desse ponto de vista, as mulheres negras ainda tem muito o que reivindicar, ja que ainda hoje muitas das "feministas" só se preocupam com si mesmas, excluindo as mulheres negras e pobres. Como é o caso de protestos que sujam lugares. Quem voces acham que limpa?
Alem disso, o movimento de terceira onda propõe a desconstrução de representações pré estabelecidas de gênero de modo binário.
Isso tambem representa a inclusão das mulheres trans dentro do feminismo. Com forte influencia de Simone de Bouvouir, a ideia de "não se nasce mulher, torna-se", propõe que a biologia sexual e a identidade de genero são coisas diferentes, e que a ideia de feminino é construida socialmente. De modo que se isso se constrói e não é inerente, as mulheres trans tambem são mulheres.
Desse ponto de vista, a maior parte das pessoas, não só das mulheres não concorda com essa pauta da ideologia de genero por não o considerarem natural.
Novamente, é importante vermos que não existe apenas um enfoque feminista. Ha muita diversidade quanto as posições ideológicas, abordagens e perspectivas adotadas. Assim como ha muitos grupos, com posturas e ações diferentes.
Então, quando uma mulher disser que não é feminista ou um homem disser que não concorda com o feminismo, ao invés de dizer que eles não entenderam o feminismo, tente saber sobre o que eles não concordam e ai tentar mostrar que o movimento não se resume aquilo ao invés de chamá-los de idiotas e menosprezar suas opiniões. Ninguem é obrigado a concordar com nada. Nem a concordar com todas as propostas.