terça-feira, 3 de setembro de 2013

Minha morte foi o mar

 A vida é um oceano. Sempre foi. Pode ser bela, plácida, calma. Pode espelhar o azul do céu e permitir que a admiremos. Pode garantir o sustento, a diversão, a poesia. Mas esse profundo mundo governado por Netuno também pode ser uma armadilha, fatal a cada nova tentativa de se remar em frente.
Ele pode ser revolto, te submergir de tal forma que você seja incapaz de alcançar uma ilha onde se refugiar. A vida pode te afogar em ausências até que você se afogue em sí mesmo.
 A vida é um oceano, e nele, existem muitas vidas, distintas entre sí. Únicas. Cada ser que ali habita é peculiar. Somos singulares.
Mas as vezes, encontramos outros seres nas correntezas que nos dão vontade de passar a conjugar esse mar no plural. De remar em conjunto.
Estava eu perdida no mar. Você, seguro em seu barco, com seus remos. Dos nossos singulares ao plural: a mar-remos... Amaremos.
 Mas, as correntezas mudam de direção, e as pessoas são igualmente mutáveis... O horizonte azul se expande, infinito de lembranças. A distância se interpõe. Voltamos a ser ímpares, sem par, como se entre nós nunca tivesse havido Vênus. Naufrago.
 A vida é um oceano. O horizonte são as palavras que eu ansiava dizer e ouvir, mas se perderam na espuma das ondas revoltas, e com elas se dissolveram, e nelas me afoguei. Minha morte foi um mar, profundo como o abraço que você nunca me deu.