quarta-feira, 22 de julho de 2015

"Não pode aqui"

Assisto, de manhã, a seguinte cena: um menino de no máximo 15 anos vendendo bala no metrô, entra um guarda: "não pode vender aqui." Ele sai. Enquanto o vagão está partindo é possivel ver os dois caminhando juntos em direção a saída. 
A noite, o mesmo menino, no mesmo vagão que eu. Novamente assisto: "meu nome é Pedro, desculpem o incomodo. Minha irmã perdeu o emprego e minha mãe está doente. Estava vendendo bala de manhã e ofereceria pra vocês se os guarda não tivessem tomado elas tudo." Nesse ponto ele começa a chorar. "É muito humilhante ter que pedir mas se alguem puder me ajudar, que Deus abençoe". As pessoas se compadecem. As bolsas abrem, as moedas fazem barulho, ele recolhe agradecido: "Deus te pague". Ouço passos. Eu não vi o guarda no fundo do vagão, nem Pedro, mas ele viu: "não pode pedir aqui."
O menino agradece a todos e sai. 
Não pode vender aqui. Não pode pedir aqui. 
O que será que ele vai tentar agora? Tomara que a irmã consiga um emprego, espero não ver o rosto de Pedro estampado em um jornal qualquer se referindo a ele como "menor".

sábado, 18 de julho de 2015

Para a sua segurança, não ultrapasse a faixa amarela

As pessoas deviam levar isso pra vida e ver que existe uma faixa amarela em tudo.
O cartão tem um limite que se ultrapassado pode nos endividar; o alcool, quando exageramos nos leva a coisas que jamais faríamos sóbrios. Comer mais do que podemos, dormir menos do que deveriamos, trabalhar e estudar mais do que conseguimos. Faixa amarela, de um passo pra trás.
Do mesmo modo, interiormente temos limites que devem ser respeitados: não se aproxime de mais dos medos, ansiedades e paranóias das pessoas pois você pode cair nos trilhos e ser atingido por um trem que nem viu chegar. Por outro lado, você pode facilmente ser esse vagão que atropela os outros, não intencionalmente, mas porque invadiram seu espaço: ultrapassaram sua linha amarela. O que se pode fazer é emitir avisos de segurança como o metrô: nessa tristeza você não mexe, nesse assunto por favor não toque, respeite minha fé, meu passado e o que quero do futuro. Mantenha a sí a ao outro seguro. 
Quem sabe assim consigamos as vezes embarcar com segurança em um trem que nos leve a algum lugar.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Conto de fadas

No metrô, passa um homem: short e regata, bolsa de academia. Ninguém repara. Só um cara cuidando de sua própria vida usando as roupas que escolheu pra malhar: ninguém tem nada com isso.
Em seguida, entra uma moça: legging, tênis, regata. Bolsa de academia. Ela desce na estação seguinte, mas as roupas que ela escolheu são da conta de todos, que se perguntam, aos burburinhos, como essas "piriguetes" não sentem frio e se "pra malhar precisa mesmo disso".
E o machismo não existe, isso é tudo fantasia de mulher vitimista.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

"Somos todos Maju"

O recente caso de racismo na internet contra a apresentadora de meteorologia da rede Globo Maria Júlia, e a comoção do público que resolveu protestar subindo a tag "somos todos Maju" me fez refletir sobre as atitudes das pessoas tanto online quanto no cotidiano.
No dia a dia, muitos (disse muitos, não todos, veja bem) usam expressões como "nossa, que serviço de preto" se referindo a um trabalho mal feito ou "amanha é dia de branco", como se não tivesse sido os negros que trabalharam pra erguer o império. Você não é Maju.
Tem também o "você é tão bonita, porque não arruma/penteia/prende/alisa esse cabelo?" "Porque usa esses turbantes?". Você acha normal o núcleo negro da novela ser a vagabunda, a empregada, o bandido mau caráter, o ladrãozinho de viela? Ta enraizado. Você não é Maju.
Quando você vê um negro na rua, você muda de calçada, senta em outro lugar no ônibus porque ele parece suspeito e acha normal que a polícia pare mais negros nas blitz e que os enquadre mais na rua pelo mesmo motivo. Você não faz nada quando presencia uma situação de racismo.Você não é Maju.
Você tem vergonha de se auto declarar negro e se diz "moreninho/mulato/moreno escuro" ou se refere assim as pessoas pois acha que dizer que ela é negra é uma ofensa. Qual é a vergonha da sua cor? Da cor dos outros? É aquela que a parcela da sociedade que agora se declara como Maju colocou em você.
Muitos de fato se comoveram pois de fato são contra o racismo, acredito que muitos realmente sejam Maju em seu sentido mais amplo de luta e aceitação.
Mas a maioria não. A maioria tem que parar pra se analisar.