terça-feira, 29 de abril de 2014

O auto do preconceito

Não, nós não somos todos macacos.
Impressionante o peso de um ato racista contra um jogador de futebol, rico, jogando na Europa. Impressionante como todos reagimos. Ficamos indignados, e realmente, era o que deveríamos fazer, nenhum ato preconceituoso deve ser tolerado. Mas, o que fazemos com o nosso descontentamento? Subimos uma hashtag que em nada serve para diminuir ou modificar o preconceito, apenas resulta numa generalização do ocorrido.
"Ele é negro, é brasileiro, e ele é macaco? Então todos nós brasileiros somos macacos, porque somos todos misturados". Como se o resto do mundo não soubesse disso né? Eles vem pro Brasil no carnaval pra ver mulata sambando, e no meio disso também encontram loiras como madrinhas de bateria. Eles estão a par da situação.
Todo modo, eu não consigo assimilar a ideia da miscigenação racial como sendo um pretexto cabivel para sermos insultados e protestarmos concordando com a ideia. Isso não é protesto, isso é golpe de marketing, e dos piores. Acha que não? Sabia que o Luciano Ruck já lançou até camiseta com a hashtag estampada? Pois é. A unica utilidade disso é retroceder anos de luta verdadeira contra esse tipo de atitude. Desde quando manifesto social virou pretexto pra campanha publicitária?
O Brasil é o pais da mistura e do preconceito ao mesmo tempo. Pessoas negras são insultadas todos os dias nas ruas, nas favelas, nos shoppings. Cada comentário aleatório como "Ele é negro mas é muito bonito", "Porque você não alisa seu cabelo?" São pequenos atos de preconceito e eu nunca antes eu ví uma hashtag nacional contra esses detalhes, poucas vezes vi indignação nas ruas por esse motivo. Não é necessário ir pra Europa pra ver o racismo. Ele é nosso vizinho.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Ditongos e Hiatos

Qual o conceito que todos tem de Relacionamento SÉRIO? É o Status do facebook? É a aliança no dedo depois de uma semana de namoro? É o poder de dizer: "Fulano é meu"? Tento, na plenitude e humildade dos meus curtos 17 anos, entender o que se passa na cabeça das pessoas.
Existe uma necessidade de posse: a rotina, os pensamentos, a senha do facebook... A certeza de que a vida do outro não saia muito de um foco especifico. Você.
Mas será que isso não é um conceito extremamente deturpado? Mal aprendemos a lidar com nós mesmos, quase não nos conhecemos, e esperamos que um outro individuo nos entenda e nos complete. Queremos fazer parte do mundo de outra pessoa, e nem sabemos exatamente o que compõe o nosso próprio mundo.
Queremos amar e entregar a nós mesmos nas mãos de alguem totalmente aleatório, mas muitos de nós ainda nem consegue se amar, não sabemos nos aceitar e de repente, aceitamos cegamente a outro.
As pessoas querem ser ditongos e ainda nem aprenderam a ser hiatos sem sentirem uma dor aguda no peito: o vazio. Vazio de sí mesmas.
A realidade é a seguinte: muitos relacionamentos que não consideramos sérios, são mais valiosos e significantes que os que carregam nobremente esse rótulo. Duas pessoas que apenas "ficam" podem ter mais amor uma pela outra que duas que namoram. Elas podem querer se ver com mais frequencia, podem desejar um ao outro com mais ardor, ter mais respeito e levar uma rotina muito mais leve que muitos casais "de verdade". Isso porque estão juntas pelo simples fato de quererem estar, não porque tem um título a zelar.
Isso é relacionamento sério. Estar junto por vontade. Ter um laço que junta e não um nó que sufoca.