terça-feira, 8 de janeiro de 2013

A liberdade sexual e os estereótipos

 Vou começar o texto com uma pergunta: quais são, atualmente, os conceitos do que é bonito e aceitável e do que não é?
 Feita a pergunta, vamos entende-la. Hoje, postaram no facebook o video de uma mulher de calcinha e sutiã, dançando funk. Video apelativo e vulgar.
Isso é novidade pra alguém aqui? Acho que não. Motivo pelo qual não é novidade: se tornou normal. Agora, eu mencionei que a "dançarina" é gordinha e não condiz com os padrões com os quais todos estão acostumados? Por esse simples motivo, um video que seria muito mais um motivo de elogios que de criticas entre boa parte dos internautas se fosse uma mulher "gostosa" se apresentando, se tornou um video sobre o qual todos estão rindo e despejando criticas. Hipócritas.
 Não que eu ache justificável uma mulher chegar a esse nível degradante de necessidade de atenção e exposição da própria imagem, mas a questão aqui não é o que eu penso. A questão aqui são os fatos. E os fatos são os seguintes: nós vivemos em uma sociedade onde pouca coisa ou quase nada impera mais que os estereótipos e ideais de beleza. Enquanto se tem isso, uma mulher pode fazer praticamente tudo na internet ou em qualquer outro lugar, que pouca gente vai dizer alguma coisa. Agora tenta sair um pouco desses padrões. Eu me submeti a ver o video da gordinha dançando e um outro video, postado pouco depois, de uma dançarina de verdade, "como deve ser" dançando. Que diferença eu vi entre os dois vídeos? O corpo da bailarina. E isso foi tudo.
Fora isso, nada mudou: mesmo tipo de nome artístico apelativo, mesmo tipo de musica vulgar, mesmo tipo de dança, os mesmos passos, as mesmas jogadas de cabelo e olhadas "sensuais".
 Sendo assim, por que uma é exaltada como modelo enquanto a outra é ridicularizada? Por que a dançarina "molde" pode se sentir sexy, bonita, desejada e SATISFEITA com seu corpo, e uma mulher fora de todos esses padrões não pode? Ela só quis fazer exatamente o que a outra fez: se auto afirmar. Mas é incrível ver como os julgamentos foram diferentes.
 Vivemos em uma época "total flex", tudo é permitido. Temos liberdade de expressão de ideias, liberdade politica e liberdade sexual. Mas, se analisarmos realmente, nada disso é verdade. Nossas ideias, visão que temos do mundo e de nós mesmos, determinam nossa concepção de politica e de sexualidade. Por sexualidade eu digo: opção sexual, posse e domínio de nossos corpos.
Temos tudo isso, no entanto, grupos políticos continuam caçando a todo custo os opositores, homossexuais continuam sendo espancados e mortos todos os dias pelo modo de vida que levam, e pessoas que, tecnicamente, tem domínio sobre seus corpos, estão sendo julgadas cruelmente por quem não as acham "boas o suficiente" para fazerem o que fazem, por não se encaixarem nos estereótipos ditados.
 Isso, visto de um monto de vista histórico e sociológico, talvez fossa cômico se não fosse trágico. Afinal de contas, se voltarmos no tempo até o período clássico, podemos observar que os padrões de beleza eram totalmente diferentes (já viram um quadro de Vênus, Deusa da Beleza, idealizado naquela época?) e isso tinha um fundamento social. Naquela época, as mulheres gordinhas eram a tendencia, elas eram desejadas e vistas como superiores porque, se elas eram gordinhas, deduzia-se que elas comiam bem, e se elas comiam bem, logo, significava que elas tinham dinheiro pra fazer isso. Tudo estava relacionado com dinheiro, status. Uma camponesa não poderia comer tão bem quanto uma mulher nobre, logo, ela seria magra e pouco desejada pela sua visível condição social.
 Mas, atualmente, os estereótipos são gratuitos e sem fundamento. Não existe razão social notável para todos acharem que apenas as mulheres magras sejam bonitas. Talvez tudo esteja resumido nisso. Razão social. Os clássicos pensavam e refletiam sobre sua realidade, sobre o que era lógico. Não defendo estereótipos, mas, pelos menos eles tinham explicações plausíveis para ter os deles.
E nós? que explicações temos? Nenhuma. Porque ao contrário deles, nós que somos tão "avançados" socialmente, não paramos pra pensar nisso.


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